O primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, foi um construtor de pontes, que lutou pela união dos movimentos de libertação nacionais para fazer frente ao colonialismo português, considera o historiador Auxílio Muhongo, citado obviamente por um dos órgãos oficiais do MPLA, no caso o Jornal de Angola (JA).
Por Orlando Castro
Segundo o também professor universitário, Agostinho Neto criou condições para o diálogo com os demais líderes de movimentos políticos angolanos da altura, como Holden Roberto, da FNLA, e Jonas Savimbi, da UNITA, mostrando que o inimigo comum era o colonialismo português.
Agostinho Neto também mostrou que, sempre que necessário para o MPLA garantir a manutenção do Poder, não se deve perder tempo com julgamentos e que o melhor é cortar o mal pela raiz, como aconteceu sob as suas ordens no assassinato de milhares e milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.
Auxílio Muhongo diz que o Presidente Agostinho Neto foi uma figura que sempre defendeu que as relações entre os povos deveriam ser contínuas e que nunca deveriam ser atacadas, mas sim o regime colonial.
Falando numa palestra sobre a “Vida e obra do fundador da Nação angolana”, na Mediateca de Benguela, no quadro da semana do único Herói Nacional que o MPLA permite que exista, o historiador considerou difícil caracterizar a figura de Agostinho Neto, tendo em conta as suas dimensões política, poética, cultural e pan-africanista. Bem poderia acrescentar outras dimensões, desde racismo a genocídio, passando por criminoso.
Num historial que versou sobre a multidimensionalidade do Herói Nacional, apontou igualmente a sua relação com os chamados “pais do pan-africanismo”, entre os quais Julius Nyerere, Kwame Nkrumah, Leopold Senghor, como parte de uma trajectória que enriquece a sua grandeza política. Grandeza aumentada com o sangue das milhares de vítimas inocentes que mandou fuzilar em 27 de Maio de 1977 e que hoje o colocam com o maior assassino da história de Angola.
“Uma vez que era um homem que defendia que apesar da Independência de Angola, nunca poderemos nos sentir verdadeiramente livres se ainda houver povos africanos oprimidos” – daí a tese segundo a qual na Namíbia, na África do Sul e no Zimbabwe, está a continuação da nossa luta.
Na verdade, é já possível afirmar com toda a certeza e segurança, que Agostinho Neto soube liderar com bastante perspicácia a luta pela libertação de Angola em particular e de África em geral, sendo decisivo para acabar com a escravatura no mundo e para a descoberta da democracia…
O mundo tem de reconhecer o papel único de Agostinho Neto, tanto em Angola como em África e até nos restantes continentes. Esperemos que, em breve, a Academia Sueca não se esqueça de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto faz. Pode ser o de assassino, criminoso, genocida etc..
Acresce que se o excluírem, ou esquecerem, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussões mundiais serão graves. Todos sabemos que quando os discípulos de Agostinho Neto espirram, o mundo apanha uma grave pneumonia.
Todo o mundo já sabe, ou devia já saber, que Agostinho Neto foi a figura africana (ou até mesmo mundial) do ano de todos os últimos 46 anos.
Todos sabemos que um Prémio Nobel para Agostinho Neto seria o mais elementar reconhecimento de que ele foi e será sempre o líder de um ambicioso programa de Reconstrução Nacional, que a sua acção conduziu à destruição do regime de “apartheid”, que teve um papel de primeiro plano na SADC e na CDEAO e que a sua influência na região do Golfo da Guiné permitiu equilíbrios políticos.
Como escreveu o órgão oficial do regime, “Angola já foi um país ocupado por forças estrangeiras, se por hipótese hoje Angola fosse a Líbia, o país estava novamente a atravessar um período de grande instabilidade e perturbação. Mas como o tempo não recua, Luanda é uma cidade livre”. E tudo graças a quem? A quem? A… Agostinho Neto, obviamente.
O mundo não pode esquecer que:
O Presidente Agostinho Neto não governou. Ele foi o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos;
Ele foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado e só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos;
Foi graças a Agostinho Neto que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar.
Na realidade, o divino carisma de Agostinho Neto tornou-o o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela e Martin Luther King.
E, é claro, Agostinho Neto nada tem a ver com o facto de Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países mais corruptos do mundo, de ser um dos países com piores práticas democráticas, por ser um país com enormes assimetrias sociais, por ser o país com um dos maiores índices de mortalidade infantil do mundo.
Escrever sobre Agostinho Neto, abordando tanto a sua divina e nunca vista (nem mesmo pelo Vaticano) qualidade de Presidente da República como a de simples, honrado, incólume, impoluto, honorável e igualmente divino cidadão, tem tanto de fácil como de complexo.
Fácil, porque se trata de uma figura que lidera o top das mais emblemáticas virtudes da humanidade, consensualmente aceite como possuidor de uma personalidade até hoje acima de qualquer outra, forte, férreo e de novo divino carisma que o tornou o mais popular político mundial.
Não admira, pois, que seja considerado com toda a justiça não só o grande pai da nação do MPLA, de África, do Mundo e de tudo o mais que se vier a descobrir nos próximos séculos.
A complexidade de se escrever sobre ele resulta, afinal de contas, da soma dos factores que o tornam unanimemente como a mais carismática, impoluta, honorável divina etc. etc. etc. figura da história da humanidade.
Quem com ele conviveu reconhece-lhe o mérito de, ao longo dos anos, se ter mantido fiel a si mesmo, mostrando já desde pequeno (talvez até mesmo antes de nascer) a sua faceta de futuro cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.
Dizem os muitos milhões de amigos que teve espalhados por todo o universo conhecido, que sempre foi amigo dos seus amigos, que nunca esqueceu de onde veio e muito menos de onde nasceu e com quem conviveu nos bancos da escola.
Sempre disponível para ajudar quem a si recorria nas mais variadas circunstâncias, como ainda hoje podem comprovar os mais de 20 milhões de angolanos pobres, Agostinho Neto é o rosto da generosidade, da determinação, do carisma que caracterizam um ser impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.
Mas há mais. Para além da sua faceta enquanto cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. e figura da história da humanidade, foi igualmente um homem (talvez o único) de paz e de uma só palavra, discreto a ponto de se recusar a dar ordens para que fosse escolhido como vencedor de um Prémio Nobel, preferindo passar os louros da sua excelsa, impoluta e honorável governação para os seus colaboradores.
A sua dedicação à família, caso a merecer estudo científico por ser único desde a pré-história, foi assumida sem grande alarido, mas com uma total devoção. Além disso carrega consigo o segredo de ser amado por 99,6% dos angolanos…